4 de dezembro de 2014


Eu sei que determinada rua que eu já passei

Não tornará a ouvir o som dos meus passos

Tem uma revista que eu guardo há muitos anos

E que nunca mais eu vou abrir

Cada vez que eu me despeço de uma pessoa

Pode ser que essa pessoa esteja me vendo pela última vez

A morte, surda, caminha ao meu lado

E eu não sei em que esquina ela vai me beijar

Com que rosto ela virá?

Será que ela vai deixar eu acabar o que eu tenho que fazer?

Ou será que ela vai me pegar no meio do copo de uísque,

Na música que eu deixei para compor amanhã?

Será que ela vai esperar eu apagar o cigarro no cinzeiro?

Virá antes de eu encontrar a mulher, a mulher que me foi destinada,

E que está em algum lugar me esperando

Embora eu ainda não a conheça?

Vou te encontrar Vestida de cetim

Pois em qualquer lugar

Esperas só por mim

E no teu beijo

Provar o gosto estranho

Que eu quero e não desejo

Mas tenho que encontrar

Vem Mas demore a chegar

Eu te detesto e amo

Morte, morte, morte que talvez

Seja o segredo desta vida

Qual será a forma da minha morte

Uma das tantas coisas que eu nao escolhi na vida

Existem tantas... um acidente de carro

O coração que se recusa a bater no próximo minuto

A anestesia mal-aplicada

A vida mal-vivida

A ferida mal curada

A dor já envelhecida

O câncer já espalhado e ainda escondido

Ou até, quem sabe,

O escorregão idiota num dia de sol

A cabeça no meio-fio Ó morte, tu que és tão forte

Que matas o gato, o rato e o homem

Vista-se com a tua mais bela roupa quando vieres

Me buscar

Que meu corpo seja cremado

E que minhas cinzas alimentem a erva

E que a erva alimente outro homem como eu

Porque eu continuarei neste homem

Nos meus filhos

Na palavra rude que eu disse para alguém

Que não gostava

E até no uísque que eu não terminei de beber 

Aquela noite...

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